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"Bônus" Opala Negra, do Inferno à Luz: A Pangeia da Raça Humana (Parte I)

  • Akasuma Lean Vicci
  • 18 de set. de 2015
  • 6 min de leitura

“[...] E quando as esperanças foram mortas pela ampulheta do destino, por entre as terras batidas, pegadas revelam um longo trajeto em meio aos diversos tempos. Uma história há muito escondida em meio ao inferno chamado realidade, quando as areias do tempo enfim revelam o mapa para a verdadeira localização do que um dia foi chamado de o grande reino de Pangeia. Não me refiro ao supremo continente, mas, a formação do que chamamos de raça humana [...] Quem diria, que de uma pedra negra, a qual carrega em seu interior o universo, surge à luz para desenrolar do novo enredo. Agora a real trama será contada [...] Ascenda novamente, Pangeia [...]”

Úmbrio, Galácia, ano de 1888. Marcados pela incansável escravidão dos povos africanos, os séculos XVI – XIX foram palcos das lutas pela emancipação e liberdade que outrora fora retirada sem nenhuma hesitação. Eis que da escuridão nasce Mallumo, cavaleiro negro caracterizado pelo seu enorme poder e pelo exército que o segue, os cazumbis. E da luz, surge a imperatriz das almas, Flama, com um único propósito em guiar Mallumo para a localização da chave capaz de trazer de volta Pangeia ao seu reinado, e assim, libertar todos os seus irmãos aprisionados.

Mallumo acorda espantado na madrugada do décimo quarto dia do ano corrente às 03h20min da manhã, em meio à gritaria e sons de luta ao lado de fora de sua tenda. Ao levantar-se e dirigindo-se ao exterior, percebe a invasão dos seus inimigos, os escapulas. Quando se pôs de pé na entrada de sua morada foste atingido por um escapulo que portava a Kazaerus - a prisão das almas, uma espada capaz de roubar e ofertar ao esquecimento a alma do inimigo. Com isso, o guerreio a muito temido, perde suas forças e o direito de comandar os cazumbis. Jogado ao esquecimento, desmaia com o ataque proferido, ficando inconsciente por dez longas horas. Quando desperta do ataque rápido e inesperado, sofre o choque. A visão de ver toda a sua aldeia devastada e seus familiares mortos. Não mais detentor de poder algum. O único ser presente ao seu lado, liberando os últimos sopros de vida é a profetisa da vila, Sibila.

Mallumo corre para prestar os devidos socorros a sua amiga de infância, ao aproximar-se, Sibila rui nos braços de seu amigo. Indignado com o ocorrido e triste pela cena que vos apresenta, cai em prantos. A profetisa em seus últimos atos profere então a seguinte sentença: “Do receptáculo sombrio e sobre a lua de sangue, as filhas do destino e guardiãs do poderoso reino se apresentarão. Sob o comando da luz, as opalas negras surgirão. E só a vós, príncipe dos mortos, Pangeia à de ser revelar”. Em sinal de aprovação ao que lhe fora dito, promete em honra ao sangue derramado, vingar-se.


No vale da neblina, domínio dos deuses da destruição, surge em meio à escuridão uma molécula de luz. Fundindo-se aos desejos mais obscuros, moldando assim as trevas em dia, origina-se Flama, mulher apenas em aparência, ser onipotente e espectral, distante das falhas humanas. A personificação da luz e da beleza. Jamais poderá ser possuída por algum mortal. Destinada a ser mentora e guardiã dos segredos de Pangeia. Prometida a guiar o príncipe dos mortos à sua glória eterna.

Ao deixar Úmbrio, Mallumo depara-se com Ibeji, o deus com poder sobre o nascimento. O príncipe dos mortos sabia que para a profecia cumprir-se deveria ter em mãos todos os dons ao seu alcance. A única coisa que lhes restara fora o conhecimento de batalha. Mallumo então firma um acordo com Ibeji: - Se me ofertares vosso dom, quando minha busca pelo grande reino for cumprida, eu libertarei vosso espirito a muito preso nessa forma humana. O deus fica instigado em acreditar naquele que o transformou em mortal. Porém, Ibeji responde: - Dar-te-ei meu dom, sob uma condição. Se por ventura vieres a me trair mais uma vez. Farei de vós poeira em meio ao imenso deserto. O deus do nascimento, junto com os outros onze grandes faz parte dos guardiões primordiais de Galácia. Cada um condenado à mortalidade, quando num passado distante entregaram-se aos desejos humanos. Todos aprisionados pelo próprio Mallumo. Seu título de senhor dos mortos surgiu quando julgou sua própria mãe – Iansã. No dia de seu casamento, quando iria desposar Sibila ao seu filho, a sacerdotisa Iansã é corrompida pela arrogância. Então como num momento de cegueira, roga sobre a então quase nora, o castigo que a transformou em profetisa. Arrancou de vossos braços o seu verdadeiro amor. Quando uma mulher torna-se profetisa, são tomados todos os seus sentimentos. Apenas servindo de instrumento para os deuses incorpóreos.

Ao descobrir a profecia de Sibila ao seu primo, Ogum e Oxumaré, surgem por entre os cadáveres jogados no chão: - Sabemos da visão de vosso futuro, tal responsabilidade jogada nos ombros daquele que não soube portar-se em meio a uma família. Ingratidão que resultou no castigo de todos os seus. Como saber se podemos confiar a ti a única chance que temos de retornar aos dias de glória? Em sinal de exaltação sobre tamanhas ameaças, Mallumo replica: - Sabeis que se ainda vive foste por pena de minha parte. No fundo ainda sentia remorso devido à forma como foram tomados pelos pecados de suas criações. Mas, não cometerei o mesmo erro duas vezes. O acusado inquisidor parte para cima dos primos, quando de repente Xangô intervém: - Venho lembrar-te que julgar cabe a mim. Se queres ser transformado na personificação dos erros de vossos irmãos basta apenas dizer. Em contrapartida, matar seu próprio sangue irá leva-lo a qual lugar? Se quiseres ajuda, procures Exu. Ele irá informar melhor que ninguém como irá encontrar a Luz da profecia. Mas, antes, levais nossos dons consigo, irão ser uteis em vossa jornada.

Caminhando em direção à morada de Exu, um pântano quase inabitado. Mallumo escuta alguém se aproximando a passos largos. Ao virar-se, tem a visão de uma feição assustadora rastejando em sua direção: O que quereis em meus domínios; resto de placenta de minha irmã? Replica: Fostes essa arrogância e superioridade que o aprisionara em desprezível forma, meu tio. Ainda indignado porque vosso pai o transformou em serpente? Lembre-se o mais astuto também sofre a cólera de Oxalá.

Recebi a noticia que precisas de minha ajuda, isso prossegue? Aquele que jurou jamais pedir um favor meu, hoje vem quase que se debruçando sobre mim para tirar valiosas informações sobre a imperatriz das almas. Mallumo: Imperatriz? Quer dizer que a luz a qual a profecia refere-se é a onipotente e intocável imperatriz das almas? Exu: Achou que em meio à tamanha escuridão e ganância dos povos a luz tão prometida seria fácil de ser alcançada? Posso ajudar-te, mas sob uma condição. Se falhar em sua jornada, terá de libertar a mim e meus irmãos, da mesma forma que sua alma irá me pertencer. O príncipe: Astuto de sua parte, mas como não disponho de outras maneiras, aceito sua oferta. Exu: Rapaz esperto e perspicaz. Irei mandá-lo direto à entrada do vale da neblina. Mas, a única coisa que direi depois disso é o seguinte, “Em meio ao breu do domínio da destruição, luz e trevas irão batalhar, e somente nessa hora. O perdedor se ajoelhará”. Mallumo: - O que isso quer dizer?... Antes que percebesse, já se fazia de prontidão no portão do vale.

Mal chegara e, do meio da escuridão surge como um estouro de trovão, o seguinte questionamento: QUEM OUSA PISAR EM MEUS DOMÍNIOS? Em estado de choque com tamanho timbre de voz, Mallumo não profere sequer uma única palavra. Era a primeira vez, desde o momento em que acordara, que se via na posição de não responder a um questionamento. Então em meio à densa neblina, em sua direção, cavalgam os deuses da destruição: - Ninguém jamais saiu vivo, uma vez que entrou em nosso território. O príncipe logo pensou em algo forte para montar e enfrentar seus desafiadores. Em um simples sopro, surge do chão um rinoceronte negro e da partícula de areia do solo em que pisa Mallumo forja uma armadura para o animal. Apresentam-se os dons de Ibeji e Ogum. Em sua mão esquerda surge a balança da justiça, seria ela a arma utilizada por Mallumo para enfrentar os deuses. Um a um foram julgados, cada gota de sangue e suor derramados dos corpos que serviam de cascas aos deuses faziam a balança mover-se e então proferir a sentença. Quando nenhum mais se fazia em pé, como em uma ventania incessante e um clarão como estouro de trovões, a Imperatriz aparece na frente de Mallumo: - Muita pertinência de sua parte entrar sem permissão nos domínios alheios. Sentirás a verdadeira cólera de um deus. Elevem-se agouros da meia noite. Arranquem do intruso até a última gota de seu sangue e o último pedaço de carne em seu corpo...

Ao dar as costas a Mallumo, Flama sofre o espanto. Parado a sua frente estava o príncipe dos mortos. O que os agouros estavam destroçando era os próprios deuses da destruição. Mallumo usara o dom de Exu em manipular as imagens e transformou-os nele para enganar Flama. E como uma astuta serpente, o príncipe dos mortos pula sobre Flama, decepando então, as asas cintilantes da Imperatriz. Da onipotência à mortalidade. O brilho não mais existe nos olhos da deusa. Agora encontra-se de joelhos aos pés de Mallumo, cumprindo assim a profecia de Exu: “ Em meio ao breu do domínio da destruição, luz e trevas irão batalhar, e somente nessa hora. O perdedor se ajoelhará”.


CONTINUA....

 
 
 

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© 2015 por Maurício Rosendo Leandro dos Santos.

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