Mugen Tsukuyomi
- Akasuma Lean Vicci
- 25 de set. de 2015
- 3 min de leitura

Certo dia encontrava-me em uma cama de um hospital aqui da minha cidade. Estava paralítico, na verdade ainda estou. Não de movimentos físicos, mas, em mente. Saúde é algo relativo em meu estado atual. Como posso estar bem, se minha mente não mais me pertence? Agora sou marionete em meio ao mundo. Vivo apenas por viver, não preciso de muita coisa que envolva a capacidade de pensar. Como cheguei a tal ponto?
Fui lapidado pela sociedade. Entreguei-me de forma passiva aos cuidados do mundo. Roubaram meu corpo. Fui lançado em um reino de pesadelos infinitos. Não sei como posso sobreviver sem o que de mais me é valioso. Muitos acham que para os humanos a capacidade de ser intelectual é algo de sua natureza. Mas, pelo contrário. Lutamos a vida toda para poder usar nossa mente ao máximo e quando menos se espera, roubam nossas conquistas, lembranças, sonhos e demais...
Quando não mais aguentava por mim mesmo, tentei lançar-me a imortalidade, ao menos, poderia desfrutar de minha mente de forma livre e ao meu modo. Pensei seriamente em me matar. Porém, num surto de raciocínio, controlei meus sentimentos. Assim, não iria fazer algo sem razão, logo, não precisaria passar pelas futuras consequências. É um perigo quando nos deixamos ser levados pelos sentimentos em momentos de desespero e medo.
De tanto imaginar possíveis soluções para o meu problema, minha mente entrou em colapso. Fiquei em coma por dois longos meses. Apenas em estado de vegetação. Meu corpo não servia mais de receptáculo para meus pensamentos, vaguei livremente. Pude usufruir daquilo que mais amava. Que engraçado, passamos nossa vida toda desejando evoluir fisicamente e “espiritualmente”. Porém, quando conseguimos tal feito percebemos que nossa vida é algo que jamais poderá ser desfeita com tamanha facilidade.
Os fantasmas que nos atormentaram durante toda nossa caminhada terrena, tomam forma após o estado de morte. Somos expostos a um filme que mais parece a eternidade - um longa-metragem de terror – que não para de reproduzir nossas falhas e nossos momentos de invulnerabilidade. Logicamente, as coisas boas também podem ser revistas nesse estado. Mas, quando temos uma vida em si de coisas desagradáveis, elas superam todos os tipos de alegrias e felicidades que já dispomos. Foi isso que senti nesse tempo que passei em coma, passei por um sofrimento ainda maior.
Imaginei que, quando eu largasse de ver essa vida as coisas iriam se ajeitar. Contraponto meu pensamento, a vida me mostrou que a morte nem sempre é uma saída. Posso sofrer enquanto carne – humano – mas posso estar me sentindo feliz em minha mente. Ainda é algo meio ambíguo de se lhe dar. A vida em conversa rápida comigo deixou claro que a morte apenas vem no momento certo. Não como um alivio aos sofrimentos, e sim, como um presente por tudo aquilo que lhe caracterizou enquanto possuía vida. Agora compliquei mesmo, certo? Eu explico. A vida me alertou que a morte não vem quando a chamamos ou desejamos sua presença. Ela apenas age no momento em que lhe convém atuar. Não gosta de receber ordens e jamais fará. Logo, em contrato firmado com a vida, uma cuida da outra e como forma de presentear as produções recebidas, a morte as guarda na eternidade. Pois, aquilo que de fato é bom, tomamos conosco como sinal de agradecimento.
Quando por fim, despertei do coma. Agradeci por aquele filme ter chegado ao fim. Pensei em levar uma vida diferente de tudo aquilo que presenciei durante o estado que me encontrava. Para o meu azar, como a maioria, fui corrompido. Voltei a viver em um mundo de ilusões e pesadelos, chamado realidade. É nesse ponto, que analiso: Qual dos dois mundos realmente vale a pena ser vivido? O que estou, nesse exato momento, ou aquele que pude provar por um tempo em estado de quase morte?
Tal resposta não possuo. É isso que resume meu estado. Estou sofrendo, estou angustiado, quero viver e ao mesmo tempo morrer. Qual sonho vale a pena ser desfrutado? Sinto umas pontadas em meu peito. A respiração volta a falhar. Vejo as coisas ficarem turvas. E como ultimo ato, deixo a caneta em minha mão escorrer tintas, rabiscando algumas palavras.... Quando esse pesadelo terá um fim? Autor desconhecido.
Os olhos fecham aos poucos. Esse foi o ultimo relato de vida de uma pessoa que não conseguiu sobreviver nessa caótica realidade. Sempre buscou uma resposta para aquilo que ocorria a sua volta. E como resultado de tantos esforços, seu corpo não aguenta mais e entra em colapso. Isso é o que ocorre com muitas pessoas mundo a fora. Seus corpos não suportam as pressões da vida e como ato de tentar aliviar tamanho sofrimento, liberam a mente como forma de reparar os males da vida. Assim, é chegada a hora da morte. Ela nos chama e assim, livra-nos de todos os problemas terrenos que nos cercam...
Comentários