A Ária dos Espíritos (Parte II)
- Akasuma Lean Vicci
- 7 de nov. de 2015
- 8 min de leitura

Odnesor – NÂO!!!! (o irmão mais novo soltou um grito tão alto e grave que o som tomou posse de todo o quarto)
Ordnael – O que foi Odnesor? O que está acontecendo?
Odnesor – onde está o barco? O que aconteceu com o míssil?
Ordnael – Mas que barco, e que míssil? Estas louco? Você teve um pesadelo!
Porém, Odnesor sabia que nada daquilo era um simples sonho. Nunca vira algo tão real em sua vida, a agonia e a dor, as cores de sangue, a explosão, nada disso poderia ser apenas um sonho. Talvez que sabe uma visão ou um vislumbre de algum ocorrido.
Ordnael – Vamos, que já está na hora de partirmos, ou nos atrasaremos para o trabalho.
Os irmãos trabalhavam com sua mãe em um barco pesqueiro. Tudo o que pegavam nas redes, vendiam para o comércio local, e assim, tiravam seu sustento. Era um barco a vela grande e velho, todo trabalhado na madeira, foi o único que conseguiram comprar com o dinheiro que juntaram durante 10 anos trabalhando para um magnata e contrabandista de pescados.
Quando o sol raiou, os irmãos estavam a caminho do porto da cidade em que moravam. Sua mãe já estava de pé ao lado do barco apenas aguardando a chegada dos filhos.
Odnesor e Ordnael – Bom dia, minha mãe!
Sotnas – Bom dia, meus filhos. Dormiram bem?
Ordnael – Claro, mesmo depois dos devaneios de sempre, dormi como um anjo. Porém, Odnesor teve um pesadelo referente a um barco sendo atingido por um míssil.
As palavras soaram nos ouvidos de Sotnas como uma espada perfurando a carne. A mãe ficou perturbada. O silêncio tomou conta do ar.
Sotnas – Não estava na hora de tais visões acontecerem. Ainda é cedo para saberem disso, pensou Sotnas no seu íntimo.
Sotnas – Ainda bem que foi apenas um sonho! Disse em tom de insegurança e nervosismo.
Odnesor – A senhora está bem? Por que hesitou tanto para responder?
Sotnas – Apenas fiquei preocupada com o que lhe dizer depois de um sonho como esse.
Odnesor – Sabes que para mim não foi um sonho, não é?
Ordnael – Ué, cadê o pequeno cético que conheço? Realmente está acreditando que aquilo era real?
Depois de perceber que ninguém iria acreditar em suas palavras, o irmão mais novo cedeu...
Odnesor – Tens razão! Acabei me apossando de sua imaginação fértil. Vamos logo trabalhar que hoje quero acabar cedo. Caminhou rumo ao barco.
Sotnas e Ordnael se entreolharam. Ordnael falou baixinho para Sotnas:
Ordnael – Ele ainda não está preparado para saber. Vamos deixar passar mais um tempo.
A manhã passou tão rápido que mal perceberam, estava difícil conseguir algum pescado naquele dia. Sotnas pediu que Ordnael levasse o barco mais próximo de uma ilha rodeada de alguns recifes de corais. Ao aproximarem a embarcação, algo atingiu a polpa do barco. O leme do barco partiu ao meio, ficaram a deriva no mar. Quando Sotnas olhou para o céu, o sol estava a pino, marcando exatas 12:00h.
Sotnas – Que droga! Num calor escaldante esse infeliz episódio acontece. Vamos ter de ir de bote até a ilha e conseguir madeira para consertar o leme.
Sotnas e Ordnael subiram no bote, Odnesor preferiu ficar para vigiar o barco. Quando os dois se distanciaram da grande embarcação, uma forte correnteza os puxou rumo ao forte de corais.
O bote chocou-se contra a parede de recifes – a colisão o deixou em pedaços – os dois afundaram juntamente com barco.
Odnesor ficou desesperado com o que acabara de ver, não sabendo o que fazer, se jogou na água e nadou em direção ao seu irmão e sua mãe. A correnteza o arrastou no sentido contrário. Sem forças para ir contra a força da água, afundou no denso mar.
À medida que ia afundando, Odnesor escutava uma melodia familiar, uma canção que ouvira quando criança, parecia que estava sendo tocada por harpas angelicias...
[...]
Para qual lado ela há de pesar?
Seu futuro dependerá do peso de vossa alma...
[...]
Sua hora irá chegar
A vingança está selada, sua alma foi arrancada
[...]
Odnesor – Como posso está escutando essa canção numa hora dessas? Isso é apenas uma ária de histórias infantis.
Um feixe de luz apareceu na frente no irmão mais novo, uma criatura ganhou forma diante aquele humano, era Larok (o espirito do mar) temido por entre muitos barqueiros por as lendas que cercavam seu nascimento.
Larok – Olá minha linda criança, há tempos que não nos encontramos. Como estas meu espirito favorito?
Odnesor – De onde você me conhece, e como eu posso respirar aqui? Aliás, por que eu ainda não morri?
Larok – Não se preocupes, você consegue falar e respirar embaixo d’água. Além do mais, não se pode matar quem já está morto!
Odnesor – Como assim quem já está morto? Não fale besteiras, eu estou mais vivo do que você!
Larok – Tens mesmo certeza disso? RsRsRsRs
Um clima tenso pairou entre Odnesor e Larok, como entender os acontecimentos vividos até então? Será que existem respostas plausíveis para tais choques na vida do “jovem garoto”.
Ordnael e Sotnas vagaram a deriva até a ilha, os dois olharam em direção ao barco, no mesmo instante, uma onda atingiu a lateral do antigo barco a vela e o partiu ao meio. Fragmentos de madeiras foram lançados ao léu, a vela foi arremessada como uma lança nos recifes de corais.
Ordnael – NÃO, ODNESOR!!!
Sotnas – Calma, ele deve estar bem. Nada iria acabar com ele assim tão fácil!
Ordnael – Mesmo sabendo disso, fico preocupado. Com os acontecimentos recentes, acredito que esse foi apenas uma forma de tudo se firmar. Ele vai acabar descobrindo a verdade depois disso.
Sotnas, pela primeira vez, ficou aflita. Tudo que planejaram durante anos iria acabar de vez agora.
Sotnas – Se aquele maldito espirito o encontrar, estamos arruinados!
Ordnael – Verdade! Temos de contatar os outros. Faça aquilo...
A existência de Larok e o seu aparecimento para Odnesor ainda levantavam muitas suspeitas. Fora que a posição de Sotnas e Ordnael quanto aos atuais acontecimentos deixavam-nos ainda mais surpresos quando a pouca preocupação com o “jovem garoto”. E o que diabos era AQUILO que o filho mais velho pediu para a mãe fazer?
Odnesor – Sei que agora sinto que tudo faz parte da Morte. Porém, ainda existo. Existo? Como posso saber?
Larok – Exatamente. Você não pode saber. Mas sim, você existe!
Odnesor – Você consegue ler meus pensamentos? Perguntou o jovem com uma cara de espanto.
Larok – Da mesma forma como consegue respirar aqui! Mesmo na morte você ainda existe, pois a Vida é a existência além da Morte...
Odnesor – ...Mesmo que a morte seja o fim da Vida. (Interrompeu o jovem) Essas foram as palavras que minha mãe sempre me dizia quando eu ficava assustado ao perder um parente ou pessoa próxima e que eu tinha um laço muito forte.
Larok – Meu querido, você já esperou muito tempo e está mais que na hora de saber a verdade sobre seu nascimento e sobre sua morte!
Odnesor – Por que continuar a insistir sobre minha morte? Eu realmente estou vivo. Você que está morto!
Larok – Será mesmo? Primeiro, Sotnas não é sua mãe. Você não tem apenas 18 anos e não pertence mais a esse plano terreno. És apenas um espirito que vaga entre os mundos...
Agora sim, o jovem garoto estava paralisado com tamanha revelação. O cético que a muito tomou conta de seu ser, deu espaço para uma criança assustada temendo que tudo aquilo realmente fosse verdade. Como Odnesor iria apoiar-se em tamanhas mentiras desmascaradas e será que ele irá perdoar a todos por o enganarem esse tempo todo?
Ordnael –Temos de contatar os outros. Faça aquilo... abra o portal entre os reinos....
Sotnas – Mas não tenho poder suficiente para fazer isso sozinha, há tempos não faço isso. Tal encantamento precisa de um certo tempo para que esteja pronto. Fora que preciso de sangue de algum sacrifício para realizar de forma eficaz o ritual.
Sotnas é um espirito de uma antiga sacerdotisa e bruxa que fora aprisionada nesse mundo como castigo por ter matado seu marido e seu filho ao sacrificá-los ao espirito que firmara um pacto para que pudesse engravidar. As sacerdotisas não poderiam ter filhos devido ao juramento que faziam em suas ordenações. Os maridos eram apenas para não sentirem sozinhas enquanto estivessem vivas, mas não podiam praticar sexo em hipótese alguma.
Ordnael era o espirito de um dos amigos que foram mortos quando um míssil atingiu o barco durante a guerra dos grandes impérios. Ele era responsável por proteger o espirito de Odnesor até que o recipiente de carne estivesse pronto para exercer sua função.
Ordnael – Precisamos entrar em contato com o chefe de nossa ordem, e assim, pedir auxilio de sua grande sabedoria para nos guiar em meio as trevas dessa realidade.
Sotnas – Então, vasculhe a ilha atrás de um sacrifício para que o ritual possa ser realizado.
Ordnael no mesmo instante fez o que Sotnas havia lhe ordenado. Ao vasculhar a ilha encontrou uma pequena e pobre aldeia onde se tinham apenas mulheres e anciões. As donzelas eram todas virgens e os anciões eram largados no local para suprirem os desejos sexuais das moças quando elas não quisessem mais o título de puras. Era uma aldeia totalmente diferente das já vistas pelos olhos humanos. Alguns antigos diziam que era a ilha sombria de Temícera, onde apenas as guerreiras rejeitadas eram trancafiadas com castigo por desobedecerem as ordens de sua rainha, já outros diziam que eram o lar das temidas sereias do mar negro.
Ordnael então aguardou pacientemente atrás de um arbusto e quando uma das donzelas caminhava tranquilamente em sua direção, ele saltou sobre o corpo esbelto e quase que desenhado a mão aprisionando-a em uma rede de pesca. Agora o que Sotnas ordenara que Ordnael fizesse estava concluído. O ritual estava para começar.
Larok – Vejo que perdeu suas forças criança...
Odnesor – Como posso acreditar que tais palavras sejam de inteira confiança? Mesmo que eu esteja disposto a acreditar devido a forma como eles me trataram ultimamente não posso acreditar em um estranho que acabei de conhecer e duvidar daqueles que passei 18 anos convivendo.
Larok – É de se compreender sua posição, porém, você tem mais de 180 anos. Eu sou o capitão do navio ao qual você viu no seu sonho. Sotnas não passa de uma sacerdotisa aprisionada nesse mundo como castigo por me desobedecer, e seu suposto irmão, não passa de um cãozinho de guarda para seu espirito.
Odnesor – Espera um pouco. Sacerdotisa? Guardião? Você é o capitão? Então quer dizer que o barco que vi no meu sonho era real?
Larok – Comecemos a acertar os conceitos, não era um barco, e sim, um navio. Seu espirito vaga nesse plano para ser meu instrumento quando for enfrentar meu inimigo e senhor desse reino – O capitão Pedrix – mestre das marés e supremo mago da sabedoria, meu antigo tutor e mestre.
As coisas ainda não faziam sentido algum para o jovem Odnesor.
Na ilha, o sol estava marcado exatas três horas da tarde, o ritual estava quase todo pronto, Sotnas aguardava apenas pelo sacrifício humano. Quando Ordnael trouxe a donzela, Sotnas ordenou que a colocasse no centro do símbolo desenhado no chão – mais parecido com um triangulo circunscrito.
Sotnas – Agora, corte o peito dela e arranque o coração, o corpo deve estar vazio para que o antigo sábio possa usar ele como recipiente para vir a esse mundo.
Ordnael – Certo, não demorou muito e o coração da donzela fora arrancado e lançado a três metros de distância de seu corpo.
Sotnas – Aqui sobre a marcação de sua ordem, eu faço esse sacrifico como forma de demonstrar minha lealdade a vosso espirito antigo, sábio e guardião dessa realidade. Apodere-se desse recipiente e venham nos auxiliar nas trevas de nossa jornada, mostrando-nos a luz que tanto precisamos para prosseguir...
De repente o céu ficou nublado e sombrio, um ciclone se formou ao lado esquerdo da ilha e do centro dele um raio fora lançado, um impotente espirito foi lançada em direção ao corpo da donzela que encontrava-se morta naquele momento. Depois que o ciclone – portal mítico – se fechou o corpo se pusera de pé e então uma voz grossa ecoou no ar...
Pedrix – Quem me chamou para que minha sabedoria se apossasse de vossos olhos e os direcionassem rumo ao caminho longe das trevas?
CONTINUA....
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