A doutrina da imparcialidade
- Akasuma Lean Vicci em parceria com Daniel
- 21 de nov. de 2015
- 6 min de leitura

“[...] Etimologicamente, no latim religião deriva-se de relegere (respeitar) quer vem do verbo religare (religar) [...] a religião é o amparo e conforto moral dos crentes que sofrem [...]” Techo retirado do site Dicionário de Filosofia Sérgio Biagi Gregório.
Será que a religião tem mesmo exercido tal papel para com os seus seguidores? Conforme os relatos que permeiam a história humana enquanto sociedade civil e possivelmente religiosa, os dados apontam o inverso. A religião foi – e ainda tem sido – uma arma de manipulação sobre determinados grupos sociais a fim de banaliza-los e trazerem assim os seus simpatizantes para as margens obscuras da liberdade e do conforto moral e espiritual – o medo de ser quem de FATO somos.
É inegável os benefícios que a religião proporcionou para a sociedade como um todo, tanto na medicina, na filosofia, no ensino, e acima de tudo, para quem é adepto aos seus dogmas, algumas religiões trazem sim o conforto prometido para aqueles que são simpatizantes de seus ensinamentos.
Um exemplo disso é a história de vida de Chiara Luce Bandano, aos 17 anos quando foi diagnosticada com um tumor ósseo, foi na religião que Chiara encontrou conforto para enfrentar sua doença. Transmitia alegria, paz e serenidade à todos que estavam a sua volta. Chiara era uma jovem bonita e que gostava de praticar esportes, seus amigos a consideravam acima de qualquer coisa uma pessoa extraordinária e que jamais demonstrava fraqueza perante seus problemas. No momento de sua partida ela disse: “Eu já não posso mais correr, mas gostaria de vos passar a chama, assim como na Olímpiadas”.
Vemos que a fé de Chiara em um deus invisível e nos dogmas pregados pela religião que ela simpatizava-se trouxe conforto para enfrentar todos os seus problemas físicos e espirituais. Sua vida tem se tornado exemplo para muitos, a jovem é considerada pela Igreja Católica, beata italiana.
Nem sempre as religiões cumprem seus papeis de confortarem as pessoas que se encontram no entorno de sua história. Muitos foram os relatos de opressões, mortes e demais castigos causados a sociedade civil pelas mãos de religiosos e possíveis seguidores do mesmo deus pregado à Chiara. Como nos esquecer das Cruzadas, O Tribunal da Santa Inquisição e o Processo de Colonização? Esses foram alguns dos vários episódios onde a religião apresentou seu lado sombrio.
Quem não se lembra do que aprendemos no colégio, especificamente na disciplina de história – aquela que muitos consideram chata por apresentar mais a Europa do que seus países natais? – sobre a caçada as bruxas? E todos aqueles que foram taxados como hereges por não se submeterem ao poder da Igreja? E antes que me esqueça, coitado de Lutero!
Foi perseguido por lutar por uma Igreja sem poderes materiais a fim de trazer os reais deverem e obrigações que a Santa Fé deveria pregar de verdade. Mas como nada fica impune, pelo menos na teoria, o papa João Paulo II na praça de São Pedro em no Vaticano, pediu perdão ao mundo por todos os crimes e impunidades cometidos pelo abuso de poder da Igreja Católica.
Pedir perdão não apaga as inúmeras vidas retiradas, mas é uma forma de reconhecer que até a religião que foi fundada por um deus cheio de amor e compaixão pode ser corrompida. Assim podemos entrar na discursão do lado obscuro de Deus!
Usarei um trecho de um texto escrito por uma crente de uma religião X, retirado de um blog durante minhas pesquisas:
“Deus não é tão cruel, mas é justo, se você tem Deus em seu coração não precisa ir a igreja todos os dias, vestir roupas longas, e dizer que em Deus só há amor e que se você matou alguém é só ir na igreja dizer que ama a Deus ler a bíblia toda e ele irá te perdoar, essas pessoas se enganam. Claro que Deus da chances mas se você errou irá pagar pelo que fez, Deus não gosta de bajulação e veneração seja você mesmo não se traque em religião esperando ser salvo por Deus pois ele sabe mas que você seus segredos profundos e não passa a mão pela cabeça quando você erra”
Assim a discursão começa há ficar um pouco interessante. Se deus não é puro amor como pregar por ai, então as mortes causadas em seu nome de alguma forma são explicáveis? Bem, para que não nos enganemos, o fato de deus não ser puro amor não implica sobre o fato de matarem em seu nome – isso se chama fanatismo religioso, onde os seguidores de tais pensamentos acreditam que sua crença é a única verdadeira e que pode ser imposta sobre os que não a praticam – o fato de Deus não ser apenas amor significa que mesmo aquele que ama pode odiar. Dessa forma, podemos entender como o fato de sermos parecidos com o “nosso criador” faz-nos bons e maus.
Toda mitologia, mitologia? Sim, essa é a maneira correta para nos referirmos as religiões. Toda mitologia tem grandes simbolismos escondidos por entre seus dogmas. Sejam eles para nos ajudarem a viver no meio civil, seja eles para nos orientarem nos caminhos espirituais.
Esse pensamento até agora fez com que eu se lembrasse de um mito grego, o das Mênades. O mito revela a apreensão do ser humano no que ele tem de selvagem, perigoso e sombrio.
As Mênades são consideradas devoradoras dos homens, essa característica tem um simbolismo muito marcante, pois o mito leva o homem a olhar para si e a reconhecer sua passionalidade e sua desrazão.
Acredito que alguns não entenderão o porquê dessa aproximação das Mênades com a forma que tenho tratado a religião até agora. Vejamos, se compararmos a religião com as Mênades tudo fica claro. As mitologias tem sido as devoradoras dos homens, assim, tudo o que o ser humano mais deseja e se sente atraído é subjugado e condenado pela religião. Agora acredito ter ficado clara as coisas.
Em contrapartida ao exemplo de Chiara Luce para o lado bom da religião temos o fanatismo religioso personificado no caso Shira Banki.
Primeiramente vamos ao significado de fanatismo: zelo religioso obsessivo que pode levar a extremos de intolerância, ou melhor, adesão cega a um sistema ou doutrina. Vamos agora falar sobre o ocorrido: “A adolescente de 16 anos, Shira Banki, foi morta três dias após receber facadas de um judeu ultra ortodoxo na Parada Gay em Jerusalém” casos como o de Shira não são novidade em nossa realidade comandada pelas várias crenças conservadoras. Pessoas que se apossam de doutrinas e dogmas pragmáticos para impor sobre os outros seus objetos de culto alegando estarem exigindo respeito sobre a profanação dos mesmos.
Quando o respeito exigido por um seguidor de determinada religião passa a ser o opressor de quem não segue a mesma doutrina? Quando saímos do campo da racionalidade e entramos na intolerância sobre o outro.
O real problema não está no fato das religiões existirem, e sim, no uso que estamos fazendo delas. Como assim nós? Enquanto seres humanos, e acima de tudo corruptos, moldamos as coisas conforme nossos desejos e com a religião não poderia ser diferente.
Falei muito sobre aqueles que seguem a religião de maneira pacífica e dos que a usam de forma lunática. Mas e aqueles que não a seguem? Como ficam nessa história toda?
O termo ateísmo vem do grego (“a-“ ausência e “theos” divindade). O ateu é aquele que não crer em uma divindade, logo não participa de nenhuma doutrina. A sociedade religiosa atribui todo um significado e simbolismo sobre esse grupo tratando-os como a maçã profana. A maçã que para os cristãos e algumas outras mitologias é vista como símbolo maior do pecado, a falsa fruta que personifica o gênero Malus.
Ao sair das asas da religião os ateus passam a enxergar o mundo em seu real materialismo e não na suposição de uma essência sobrenatural que o cerca.
“Se você não controlar a sua mente, alguém vai!”
Pensar por contra própria tem sido uma resistência ao sistema religioso presente no mundo. Ser ateu deve ser a maior de todas as virtudes que encontrei até agora. Depois é claro, de saber como amar de verdade as pessoas além de suas aparências e crenças, ou até pela falta delas.
Antes de acabarmos com todo esse discurso que já está mais que cansando, analisar outra lenda grega – O pomo da discórdia – a famosa briga entre as deusas Hera, Afrodite e Atena que originou na Guerra de Tróia. Éris, a deusa da discórdia, não tinha sido convidada para uma festa dos deuses no Monte Olimpo, então cobriu uma maçã com ouro e gravou a seguinte mensagem: “Para a mais bela”, as deusas brigaram pelo título que a maçã proporcionaria.
Não sei porque mais lembrei outra vez das lutas religiosas que vem acontecendo para saber qual a verdadeira e qual o deus que realmente existe. Perdas de tempo no meu ponto de vista. Por que não brigar por algo que realmente faz sentido? Tipo lutar contra o monopólio de poder que por consequência causam os desastres ambientais como o de Mariana-MG?
Todas essas guerras farão de nosso mundo uma realidade anacíclica. Promessas com um significado palíndromo todas os conflitos e mortes serão de forma preponderantes.
Ser imparcial ainda é a melhor coisa a ser feita num mundo onde o soberano é chamado de RELIGIÃO e os servos são chamados de DIREITOS HUMANOS. Mesmo sabendo que a imparcialidade não proporciona mudanças, seguir a lógica de um sistema falho onde os “santos” mandam e os “pecadores” obedecem não é a maneira correta de se produzir frutos bons. Jamais pensei que seria difícil dissertar sobre a neutralidade da doutrina, mas uma coisa pude proporcionar... instiguei a todos a pensarem e repensarem o modo como colocamos a religião em nossas vidas.
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